PROBLEMAS COM AFINAÇÃO
O violão é um instrumento que possui incorreções naturais em sua
afinação. Pode-se analisar alguns fatores que explicarão as razões por
que isso acontece. Um violão clássico é composto, normalmente, por seis
cordas distendidas sobre uma escala previamente estabelecida; são
presas em dois extremos, nas tarraxas colocadas na palma e no cavalete,
este colado sobre o tampo. Em termos práticos, para determinar o
comprimento de escala do violão, deve-se considerar como origem da
corda a pestana e como término o rastilho. A pestana _ normalmente
feita de osso _ é colocada logo no início da escala, junto à palma,
como se fora o primeiro traste (traste zero) e define o distanciamento
das cordas entre si, neste ponto. O rastilho, feito do mesmo material
da pestana, é colocado junto ao cavalete, sobre o tampo, e regula o
distanciamento (ação) das cordas sobre a escala. A partir da distância
entre a pestana e o rastilho determina-se a colocação dos trastes.
Teoricamente, quanto maior for essa distância, maior será a tensão das
cordas ao serem afinadas e maior será, conseqüentemente, o afastamento
dos trastes. O violão, como todo instrumento temperado, possui
incorreções de afinação, devido ao fato de possuir trastes fixos,
subdividindo os pontos de vibração da corda. Além disso, existe o
problema da “ação” das cordas sobre a escala, pois, ao serem
pressionadas para alcançar o traste, elas são “esticadas” alterando,
assim, a afinação do instrumento. Em um violão clássico, a ação das
cordas sobre o 12o traste é, em média, 4mm. A fim de minimizar as
alterações na afinação, devido ao percurso que a corda descreve até
atingir os trastes, é comum utilizar-se uma pequena correção na colagem
do cavalete, aumentando cerca de 1mm o comprimento da primeira corda e
2mm da sexta, fazendo com que o rastilho fique inclinado, em razão da
diferença de espessura das cordas.
TESTE SIMPLES PARA AVERIGUAR A QUALIDADE DA AFINAÇÃO
Deve-se afinar as cordas soltas; logo após tocar, uma a uma, a 8a da
corda solta, na mesma corda em harmônico. Ex.: 6a corda solta = MI; 6a
corda sobre o 12o traste Mi 8a acima.
A nota tocada em harmônico será uma oitava perfeitamente afinada. No
entanto, ao pressionar esta corda sobre o 12o traste, nem sempre se tem
uma afinação perfeita. O erro mais freqüente é a nota ferida soar mais
alto do que deveria, pelo estiramento da corda para chegar ao traste.
Existem duas maneiras para corrigir este problema:
O primeiro, normalmente o correto, é aumentar a distância do rastilho
em relação ao 12o traste.
O segundo somente será possível se a ação das cordas estiver muito
alta, pois assim pode-se diminuir a altura do rastilho, minimizando a
distância que a corda deve percorrer para chegar ao traste. Com uma
ação menor a corda tende a apresentar uma alteração menor de afinação.
Se, ao ferir uma corda num determinado ponto da escala, a nota soar
mais baixo que a nota harmônica, deve-se fazer o processo inverso do
mencionado anteriormente.
É sempre bom lembrar que o violão é um instrumento de afinação
imperfeita, porém, é possível minimizar os problemas de afinação a
ponto de serem quase imperceptíveis, mesmo para os ouvidos mais
aguçados.
As cordas são um elemento fundamental para a qualidade de som e
afinação de um violão. A utilização de cordas por um tempo muito
prolongado (tempo que varia de acordo com a qualidade das mesmas)
prejudica a qualidade de som do instrumento, assim como a utilização de
cordas não recomendadas pelo fabricante. (...)
Para concluir, pode-se afirmar que somente haverá um violão com
afinação perfeita quando todos os trastes fixos que delimitam os pontos
de vibração das cordas forem removidos, deixando a afinação das notas a
cargo do violonista, como acontece com a família de instrumentos de
arco. Esta situação abalaria toda a técnica violonística adquirida até
hoje, o que provavelmente nos fará continuar convivendo com essas
pequenas incorreções na afinação.
(Excerto do artigo publicado na Revista Assovio “Violão_Este persistente desafinado”, por Eduardo Cordeiro.)