TAMPO HARMÔNICO
Durante muitos anos foram
fabricados violões com tampos de abeto e cedro de uma
grande variedade de espécies, à procura do material definitivo para a
construção do tampo harmônico. Há muitas escolas de pensamento sobre
qual variedade de abeto é a melhor. Muitos construtores, dentre os
quais eu me incluo, acreditam na variedade européia, conhecida como
abeto alemão ou abeto da Bavária (Picea excelsa) e (Picea abies).
Devido aos vários séculos de colheita destas espécies, a
disponibilidade dos melhores exemplares de abetos europeus foi
severamente reduzida. Em vista disto, hoje é bastante raro encontrar
tampos com boa qualidade, ao contrário dos abetos nativos da Colúmbia
Britânica, que apresentam grande qualidade e alguma fartura.
Eu acredito que o construtor bem informado selecionará o tampo
harmônico por suas características individuais, baseado mais nas
qualidades inerentes da seleção individual, do que escolhendo um tampo
harmônico somente por sua reputação. Afinal de contas, um tampo de
abeto engelmann que exibe características excelentes vai, obviamente,
ser superior a uma variedade européia com qualidades medíocres. De
acordo com material utilizado, um bom construtor modificará densidades
do tampo e a colocação da estrutura interna, para atingir o melhor
resultado sonoro possível de cada instrumento.
A meu ver, o abeto é a madeira
mais indicada para a construção do tampo harmônico, devido à sua alta
relação de rigidez e densidade, situação muito vinculada com a maior
velocidade de condução do som; assim, na direção longitudinal dos
veios
(fibras) obtém-se uma velocidade do som de 3.600 m/s e na direção
transversal, 800 m/s. Disso, deduz-se que o veio oferece uma
resistência à condução do som, por isto é desejável utilizar tampos
cujos veios sejam muito estreitos.
A
parte interna do tampo harmônico é formada, geralmente, por um
conjunto
da varinhas de madeira (em geral a mesma madeira do tampo) que podem
ser diferenciadas em duas classes, quanto às funções. As colocadas
transversalmente à fibra são estruturais e proporcionarão resistência
à
caixa de ressonância; as colocadas, aproximadamente, no sentido da
fibra chamam-se leque harmônico e têm o objetivo de aumentar a massa
do
tampo, para conseguir, dentro do possível, que ele entre em
ressonância
com todas as frequências que as cordas emitirão, ao vibrar.
Cada construtor usa uma estrutura peculiar, mas se observa que, em
geral, a estrutura não aumenta a rigidez do tampo, pois esta não é sua
função.
Seria desejável que o tampo harmônico tivesse uma frequência de
ressonância centrada entre a gama de frequências que o violão emite,
que vai de cerca de 80 a 1000 Hz, pois desta forma o tampo
sintonizaria
com toda a gama de frequências, ordenadamente.
Eleger um tampo que corresponda
às melhores condições é uma tarefa muito difícil, visto que não é um
corpo que se adapte à formas geométricas puras e sua constituição não
obedece a um produto fabricado com formulação matemática; por isto, é
necessário apelar ao campo da experimentação. É sabido que um corpo
obrigado a vibrar, com a mesma amplitude, não o faz em todas as suas
zonas; inclusive, em algumas, não vibra, e sua amplitude é zero.
Se conseguíssemos, em ensaios, determinar a localização destes pontos
de vibração zero, que se chamam nódulos, aproveitaríamos para colocar
varetas que dariam maior resistência ao violão, justamente nestes
pontos, sem afetar o som, reforçando-o, sem medo de prejudicar as
vibrações do tampo. Poderíamos, também, ligar por meio de varetas,
pontos de vibração nula com pontos vibrantes, tentando fazer com que o
tampo vibrasse em todas as regiões.